Não é defeito, mas sim uma característica de preferência:
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Assim eu sou...
Não é defeito, mas sim uma característica de preferência:
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Esquizóide... me auto-conhecendo em termos psicológicos!
Estive pesquisando sobre a personalidade esquizoide na internet. Em termos etiológicos, Lowen* conceitua o esquizoide como uma criança odiada, ou seja, fruto de uma parentagem abusiva, de áspera a não harmonizada, fria, distante, e desconectada. A criança experiencia a si mesma como odiada, não desejada ou insignificante. Com os recursos limitados de um bebê, o indivíduo pode apenas se retrair, dissociar ou migrar internamente. O bloqueio das expressões mais básicas da existência e o retraimento de energia com relação à realidade externa, aos outros e a própria vida gera indiferença e desconexão para consigo e para com as pessoas, daí a dificuldade de estabelecer relações. Isso pode acontecer desde a gestação, corroborando uma hipótese reichiana de que os pacientes com núcleos psicóticos em sua personalidade teriam vivido energeticamente a experiência, durante a gravidez, de um útero frio, um ódio inconsciente da mãe pelo feto. Tudo isso pode ter referência a queda que minha mãe teve no início da minha gestação. Experiências de depressão pós-parto, apatia, angústias da mãe no tocante a falta de apoio ambiental para que a mesma pudesse estar disponível para suprir as poderosas e constantes demandas do bebê também podem deixar marcas profundas de sentimentos de congelamento, terror e aniquilamento. Dessa forma, os esquizoides clamam pelo direito de existir, de encarnar no próprio corpo, que se encontra dissociado por uma grande capacidade intelectual, criativa ou espiritualizada. O indivíduo questiona o seu próprio direito de existir e investe em ocupações intelectuais ou espirituais, identificando-se com o seu intelecto e espírito. Os outros são vistos como negadores, amendrontadores e mais poderosos que o self. O indivíduo é particularmente sensível à aspereza social. Ele projeta com frequência sua hostilidade nos outros e estimula a hostilidade através da identificação projetiva.
É importantíssimo assinalar que, apesar de toda a descrição anterior exibir uma problemática muito delicada e fonte de sofrimento para o indivíduo esquizoide, todas as suas defesas foram estratégias para sobreviver e se constituir egoicamente mediante as ameaças que foram vividas muito cedo em sua história de vida. Os indivíduos esquizoides possuem aspectos de bastante saúde em seu caráter, pois por estarem frequentemente em contato consigo mesmo no seu caos interno, frequentemente tornam-se grandes criadores, artistas, escritores, que usam da fantasia para expressar-se no mundo, numa tentativa de comunicação e contato. Lowen acrescenta que, apesar do congelamento afetivo, esse tipo de paciente é de bom prognóstico, pois existe uma ânsia interna de relacionamento, contato, uma esperança de poder vincular-se de maneira afetiva que, quando ocorre na situação terapêutica, desperta núcleos de saúde muito satisfatórios, que o paciente pode, no decorrer do processo, experienciar nas relações significativas e sociais. Vale ressaltar que esse autor, assim como outros, relata como problemática principal no paciente esquizoide a existência de um falso self dissociado da realidade, inundado por fantasias para compensar o silêncio e o vazio interior. Podemos entender o corpo descrito anteriormente como resultante de falhas no processo maturacional, no qual as cisões, dissociações, angústias inomináveis ficam registradas como padrões de memória psicossomática. É um corpo que não teve a oportunidade de ser vivo com apoio e sustentação suficientes, o bebê muito cedo precisou realizar um processo de segurar-se, retrair-se no reflexo de susto para dar conta de suas necessidades mais primárias. O individuo de caráter esquizoide, sente-se rejeitado como ser humano. A resposta dada a tal rejeição é a ilusão de sentir-se superior. Tem muita lógica, mas ao mesmo tempo parece-me revelador imaginar-me com tudo isso.
* Lowen, A. O corpo traído. São Paulo: Summus, 1990.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Educação é tudo e amor é mais ainda...
por Jan Hunt, Psicóloga Diretora do "The Natural Child Project"
Na Noruega e na Suécia a lei proíbe que pais, professores ou qualquer outra pessoa bata nas crianças. Em alguns países e territórios, só os professores são proibidos de bater. Em toda a América do Norte o castigo corporal infligido pelos pais, desde que não muito severo, é tolerado ou mesmo incentivado como necessário à educação.
Nos últimos anos, muitos psiquiatras, sociólogos e pais recomendam que se pense seriamente em banir o castigo corporal. A razão mais importante, de acordo com o Dr. Peter Newell, coordenador da organizaçaão "EPOCH - End Punishment of Children" (1) ('Acabe com o castigo das crianças') é que "todas as pessoas têm direito à proteção de sua integridade física e as crianças também são pessoas" (2).
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1.Bater nas crianças ensina-as a também se tornarem agressoras. Atualmente existem muitas pesquisas mostrando a relação direta entre o castigo corporal na infância e comportamentos agressivos ou violentos na adolescência e idade adulta. Quase todos os criminosos mais perigosos foram vítimas de constantes ameaças e castigos na infância. Para o bem ou para o mal, faz parte do projeto da natureza que as crianças aprendam pela observação e imitação das atitudes dos pais. Portanto é responsabilidade dos pais dar o exemplo de empatia e sensatez.
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2.O castigo físico passa a mensagem injusta e nociva de que "o mais forte sempre tem razão", de que é permitido ferir alguém desde que seja menor e menos poderoso que você. Assim a criança conclui que é permitido maltratar crianças menores ou mais novas. Quando for adulto ele não vai ser capaz de sentir muita compaixão pelos menos afortunados e vai temer os mais poderosos. Isso vai impedir o estabelecimento de relacionamentos significativos essenciais para uma vida emocional satisfatória.
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3.Uma vez que as crianças aprendem pelo exemplo dos pais, o castigo físico ensina que bater é um modo correto de exprimir sentimentos e solucionar problemas. Se uma criança não vê seus pais resolverem os problemas de um modo criativo e humano, dificilmente aprenderá a fazer isso. Por isso os erros dos pais freqüentemente se repetem na geração seguinte.
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4."Poupe o bastão e estrague a criança", embora popular, é uma interpretação errônea do ensinamento bíblico. Embora o "bastão" seja mencionado várias vezes na Bíblia, somente no Livro dos Provérbios essa palavra é usada em relação à criação de filhos. Na verdade os métodos severos de disciplina do Rei Salomão fizeram de seu filho Robão um ditador tirânico e opressor que escapou por pouco de ser apedrejado até a morte por sua crueldade. A Bíblia não apóia a disciplina severa, a não ser nos Provérbios de Salomão. Jesus via as crianças próximas de Deus e pedia amor, jamais castigo (3).
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5.O castigo interfere com o vínculo entre a mãe ou o pai e o filho, uma vez que não é da natureza humana amar alguém que nos fere. O verdadeiro espírito de colaboração que todos os pais desejam só pode surgir de um vínculo forte, embasado em sentimentos mútuos de amor e respeito. O castigo, mesmo quando parece funcionar, origina um comportamento superficial, embasado no medo, que só persiste enquanto a criança não tiver idade para reagir. A cooperação baseada no respeito, ao contrário, dura para sempre e garante muitos anos de alegria aos pais e aos filhos.
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6.Muitos pais não aprenderam na própria infância que existe um jeito mais construtivo de se relacionar com as crianças. Quando o castigo não atinge os objetivos almejados e os pais não conhecem outras alternativas, os maus-tratos podem se tornar cada vez mais freqüentes e perigosos para a criança.
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7.A raiva e a frustração que a criança não se arrisca a expressar abertamente ficam guardadas; adolescentes revoltados não caem do céu. A raiva acumulada ao longo dos anos pode chocar os pais quando o filho sentir que já tem forças para expressá-la. O castigo pode resultar em "bom comportamento" nos primeiros anos, mas sempre a um alto preço, a ser pago pelos pais e pela sociedade em geral quando a criança atingir a adolescência e juventude.
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8.Bater nas nádegas, uma zona erógena na infância, pode criar na mente da criança uma associação entre dor e prazer sexual e levar a dificuldades na vida adulta. Anúncios em jornais alternativos procurando chicotadas atestam as tristes conseqüências dessa confusão entre dor e prazer. Se a criança só recebe a atenção dos pais quando é castigada, os conceitos de dor e prazer se confundem ainda mais em sua mente. Uma criança nessa situação vai ter uma baixa auto-estima, acreditando não merecer nada melhor. Mesmo surras relativamente brandas podem ameaçar a integridade física. Golpes na região lombar transmitem ondas de choque ao longo de toda a coluna e podem causar lesões. A alta prevalência de dores lombares nos adultos de nossa sociedade talvez tenha origem nos castigos da infância. Crianças já ficaram paralíticas por lesões de nervos em uma surra, e outras morreram por complicações mal esclarecidas depois de uma surra de vara.
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9.Em muitos casos do assim chamado "mau comportamento" a criança está simplesmente reagindo da única forma que é capaz, dadas sua idade e experiência, a um descaso com suas necessidades básicas. Entre essas necessidades estão: sono e alimentação adequados, detecção e tratamento de alergias, ar puro, exercícios físicos e liberdade suficiente para explorar o mundo a sua volta. Mas sua maior necessidade é a atenção integral de seus pais, que com freqüência estão distraídos demais com seus próprios problemas e preocupações para tratar seus filhos com paciência e empatia. É evidente que é um erro e uma injustiça castigar uma criança por reagir de modo natural à negligência de suas necessidades. Por essa razão, o castigo não só é ineficaz a longo prazo, como também injusto.
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10.O castigo dificulta à criança aprender a resolver conflitos de um modo eficiente e humano. Uma criança castigada fica ocupada com sua raiva e fantasias de vingança e perde a oportunidade de aprender um modo mais eficiente de resolver o problema em questão. Assim, uma criança castigada aprende pouco sobre como resolver ou evitar situações semelhantes no futuro. Explicações delicadas e uma base sólida de amor e respeito são a única forma de se obter atitudes louváveis apoiadas em valores profundos em vez de "bom comportamento" superficial motivado apenas pelo medo.
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Notas
1. EPOCH Worldwide, 77 Holloway Road, London N78JZ UK
2. Comunicação pessoal.
3. End Violence Against the Next Generation (EVAN-G), 977 Keeler Avenue, Berkeley, CA 94708, USA.