“Olá! Espero que você esteja bem e feliz. Hoje estive falando com minha mãe sobre você (relembrando as absurdidades que vivi) e daí me veio o impeto de lhe procurar para tentar esclarecer o passado. Liguei na Emotive Assessoria e Treinamento, donde você tinha seu consultório, e fui informada que se mudou há anos para a cidade de Rio Verde. Não sei se você vai ler esse e-mail, pois o endereço é de quatro anos atrás e talvez nem seja mais utilizado. Entretanto, para mim, o desabafo já recompensa essa escrita. Tenho a dizer que, embora tenha sido o primeiro, não foi o único homem a crer na minha suposta virgindade, nos meus tabus com relação ao sexo, nas minhas máscaras, manipulações e fingimentos de moça pura, recatada e ingenua. Essa sempre foi a minha armadilha de outrora perante os homens que por vontade do destino se aproximavam de mim sem eu os desejar. A dança sempre foi meu instrumento auxiliar, não de sedução, mas de auto-relaxamento psíquico das tenções, mesmo que eu não utilizasse-a intencionalmente. Lembra quando fomos para o motel pela primeira vez, quando fui dançar para você? Lembra o trabalho que te dei para você tirar o meu biquíni na banheira? Você não pensou que eu poderia te odiar para sempre por conta daquilo se realmente eu fosse o que aparentava ser?
Você não foi o único homem que me teve como amante, mas foi o primeiro a dizer que pretendia se separar da esposa falando mal dela. Nunca gostei disso, pois além de você traí-la, parecia mentir para mim tentando me enrolar na conversa defensiva e crítica. Entretanto, como eu também mentia, deixava de lado as suas aparentes enganações
(como julgá-lo se eu fazia o mesmo?) . Felizmente, ou quem sabe infelizmente, você não apareceu livre e desimpedido na minha vida, pois se assim fosse, provavelmente eu não teria me envolvido contigo. Você perguntava qual era a minha fantasia e eu dizia não ter. Inconsciente eu fantasiava um homem: 1. Bem mais velho (quase impotente); 2. Que tivesse persistência (lembra quando pedi que não desistisse de mim?), mesmo que fosse apenas com a intenção de me levar para a cama (você dizia que não sentia tesão por qualquer uma, 'será mesmo?'); 3. Que fosse capaz de acreditar na minha castidade e; 4. De preferência comprometido, para me deixar livre, para não ter direito a sentir ciumes ou fazer cobranças. Eis a fantasia oculta que alimentava meu ego, mesmo que conscientemente eu 'buscasse' o oposto disso para estar bem comigo mesma. Esse era o único tipo de envolvimento que eu conseguia realizar por ser completamente descomprometido, não de sentimentos, mas de responsabilidades (isso porque você garantia magicamente que eu só ficaria grávida de você quando essa fosse a sua vontade, pois, se dependesse da minha, talvez hoje eu fosse mãe).
Pois bem, minha fantasia era perder a virgindade com todos os homens que me lavavam para o motel. Assim foi até que cansei de ser uma 'virgem' de mentira. Hoje eu superei isso e estou tentando desmentir as mentiras que espalhei e ter a coragem de seguir adiante sendo verdadeira. Em verdade é por isso que estou lhe escrevendo esse e-mail. Você me ajudou a superar e perder o medo não do sexo ou do primeiro ato sexual, mas sim da decepção de não atingir as expectativas desejadas, de ver um príncipe se transformar em sapo. Nunca soube quais eram suas reais intenções comigo e até que ponto o amor que dizia sentir era real. Eu lhe amei sim, talvez mais do que devia e sofri por isso. Não foi culpa sua, mas totalmente minha. Vivi um pesadelo cujo fim já me era previsível. Você não era o que eu esperava, principalmente na cama. Na época foi um pesar terminar contigo pois, ainda imatura, eu vivia uma fase de carência afetiva. Entretanto, logo superei o mal arrancado pela raiz com outro mal, já que o destino colocou outro homem no seu lugar um mês depois.
Obrigada por ter sido um dos homens a tirar a minha virgindade e a me amar da maneira como pôde. Eu fiz o mesmo e sempre vou te amar enquanto um amigo que alimentou as ilusões do meu ego. Me desculpa por qualquer coisa do passado, principalmente a covardia que sempre me fez ser falsa quando tinha de me expor. Isso foi não só com você, mas com todas as pessoas de modo geral. Meu mal nunca foi ser tímida, mas sim variar entre os extremos ora reservada, ora falsa e manipuladora. Minha dificuldade maior não foi ter intimidade na cama com um homem, mas sim ter a intimidade de me mostrar sem máscaras, de ser eu mesma. Estou buscando isso e haja força de vontade e coragem. Espero que me compreenda em meu maior defeito. Inconscientemente eu me fazia de vítima do tipo de homem lerdo e conquistador (mesmo que nada romântico, como você), pois era desse perfil masculino que eu gostava e que me sentia atraída, mesmo que não assumisse isso para mim mesma. Você foi um espelho meu em quesito de ser uma incógnita: até hoje me questiono sobre as inúmeras coisas sem fundamento que você me dizia. Muitas vezes tive pena do seu jeito carente de ser o mal amado pela esposa, de ser o homem que casou para a vida inteira e viu o castelo de areia da união conjugar desabar, de ser vitima dos próprios filhos que não aceitavam a separação paterna mesmo depois de quase adultos e, como também pensava na possibilidade dessa sua versão não ser verdadeira, também tive pena de você enquanto um traidor que mente para a esposa e também para a amante (o que fortalecia minha não autenticidade). Muitas vezes te sentia tão perdido em si mesmo que nem parecia estar do lado de um psicanalista. Finalizando, lembra do meu desejo de ser escritora? Tudo o que vivi com você está registrado e guardado por escrito. Não se espante e nem fique surpreendido se um dia ler um livro com uma historia semelhante a que vivemos durante quatro meses. Que Deus o tenha, hoje e sempre. Saudações daquela que nunca vai te esquecer...”